Hoje fiquei triste, ao tentar acessar meu antigo Tumblr, descobri que minha conta foi cancelada ou suspensa, e meu blog excluído. Com isso, perdi diversos textos e relatos tão caros a mim, que eu burramente não tinha feito backup.
Contudo em uma busca desesperada por entre meus aruqivos encontrei o mais importante deles: O relato de Parto da Luisa. Por isso, resolvi repostar. Segue:
Minha mãe teve 3 cesáreas. Uma por
mecônio e sofrimento fetal, outra por "já" estar a 4 horas em TP e
"só" ter dilatado 4cm e a terceira por já ter 2 cesas anteriores.
Eu sou a segunda! Para minha mãe, todas
foram necessárias, ela nunca discutiu ou pensou o contrário, mas também nunca
se informou sobre as reais indicações de cesáreas. Para ela o que um médico diz
é sempre correto, ela nunca acreditou que um profissional que cuida de algo tão
delicado (a vida e a saúde da gente) pudesse enganar, manipular, etc. por
interesse próprio. Porém, ela sempre odiou suas cesáreas. Sempre disse que a
recuperação é horrível, e que ela sentia inveja de quem conseguia ter parto
normal.
Ela sempre conta uma historinha: durante sua
recuperação ela tinha que ficar lá deitada, enquanto as mães do PN estavam
todas no corredor batendo papo, e ela morrendo de vontade de ir lá, então ela
pedia para minha avó, que era sua acompanhante, para ir ouvir as histórias e
vir compartilhar com ela. E eram histórias engraçadas em sua maioria, aí quando
minha avó as contava a minha mãe, essa pedia: "Para, pelo amor de Deus,
que quando eu rio dói tudo! Parece que estão me abrindo de novo!"
Com isso, minha mãe sempre me recomendou
que eu tentasse ter parto normal. Ela sempre dizia: quem sabe você não tem a
sorte da sua tia que teve 4 PNs, todos muito fáceis!
Ao longo da minha vida, conheci muitas
mulheres que tiveram cesárea por vários motivos: não tinha passagem, não
dilatou, passou da hora! E eu pensava comigo mesma: deve ter um jeito de evitar
tudo isso, não é possível que todo mundo tenha defeito!
Também conheci muitas mulheres que
tiveram PN. E quando elas me contavam como foi eu sempre achava estranho.
"Tem que fazer lavagem intestinal". Por que? "Para não fazer
cocô na hora do expulsivo e sujar a cama a criança e quem sabe até o
médico". Eu só pensava, não faz sentido! Se fizer cocô, limpa, ué! E se
não fizer o cocô? Ninguém pensava nessa possibilidade?
"Tem que fazer o pic
(episiotomia)". Por que? "Porque senão a criança não passa, ou se
passar rasga tudo, fica horrível lá embaixo!" E mais uma vez eu pensava:
Não faz sentido, como pode a criança não passar? Como pode ser tão defeituoso o
corpo de uma mulher a ponto de não conseguir parir sem se ferir, a criança que
ele mesmo produziu?
Enfim, eu me questionava, questionava
quem falava essas coisas, mas nunca fui atrás de perguntar a um médico, ou
pesquisar em algum livro, etc. o porquê disso tudo. Até que eu engravidei. Aí
bateu aquela preocupação: O que eu posso fazer para não precisar ser cesárea? E
se for PN, será que dá pra evitar lavagem, pic, etc?
Aí começou a minha tremenda sorte!
Primeiro que meu o ginecologista que me acompanhava há mais de 10 anos era
Mastologista e não Obstetra. Então, eu precisava encontrar outro médico. Pedi a
ele, que era de um estilo de médico muito bacana, que eu gostava muito, não
intervencionista, que me indicasse um Obstetra. Para minha supresa, ele me
perguntou se eu queria PN ou Cesa. Eu pensei: Como assim? Pode escolher? Mas
nem falei nada e respondi prontamente: PN, claro!
Ele então me passou o nome de 2 médicos:
Rogério e Carla, que eram os únicos que faziam PN em São Carlos, onde eu
morava. Again: Como assim, Bial? Tem médico que não faz PN? Como é possível?
Bom, eu marquei consulta com o Dr.
Rogério. Já estava de aproximadamente 8 semanas. Já fui pronta pra dizer a ele
que queria meu parto na água, sabe, humanizado? Mal sabia eu que eu nem sabia o
que significava isso! E estava pronta para não voltar mais se ele me dissesse
que não fazia parto na água, humanizado!
Como eu não tinha vínculo nenhum com
nenhum obstetra, era fácil para mim pensar em trocar. Era fácil pensar em me
consultar com vários até achar um que topasse me dar o que eu queria! Um parto
sem pic, sem lavagem e na água! Sim, porque no começo era isso o tudo que eu
queria!
Bom, quando eu disse isso pro Rogério,
ele abriu um sorrisão do tamanho do mundo, e com uma expressão de alívio e
felicidade me perguntou: E a doula? Já contratou?
Oi? Come again? Doula? O que é isso?
"Doula é uma profissional importantíssima em um parto natural, humanizado!
Ela te ajudará a enfrentar o trabalho de parto, minimizando a necessidade de
intervenções. Ela ficará com você na sua casa, te monitorando até chegar a hora
de ir pro hospital."
Gente, que felicidade era esse médico! E
o melhor, ele não tem aquele ar carrancudo de deus-todo-poderos que a maioria
dos médicos têm. Ele é espirituoso, brincalhão, super bem-humorado! Ou seja,
minhas consultas duravam mais de hora (para desespero da secretária e
assistente dele, que tinha que lidar com as outras pacientes que iam acumulando
na sala de espera). Mas ele mesmo não se importava com o tempo. Ele gostava de
bater papo, contar causo, especialmente os partos que já tinha acompanhado,
tanto no SUS, quanto no convênio.
Peguei então a indicação das doulas e fui
feliz para casa, ansiosa para contar para meu marido que eu teria meu parto na
água, sem pic e sem lavagem tão desejado!
Percebi que uma das doulas já era minha
conhecida, irmã de uma grande amiga, e entrei em contato com ela. Achei que o
fato de já a conhecer me facilitaria criar uma intimidade para o tal
acompanhamento. Fizemos algumas consultas, onde ela me explicava sobre a
fisiologia do parto, sobre a importância do empoderamento para parir, sobre as
dificuldades do sistema obstétrico brasileiro, sobre as intervenções feitas de
rotina mesmo sem necessidade, e me perguntou quem era meu obstetra. Dependendo
da minha resposta, ela ou me aconselharia a procurar outro médico ou outra
doula. Mas ela gostou de saber que estava bem acompanhada pelo Rogério.
Minha gravidez seguiu tranquila, meus
exames todos normais. Meu único problema era que meu marido estava de mudança
para a África do Sul. A princípio nossa idéia era de que eu fosse acompanhá-lo,
e chegamos a pesquisar sobre partos, custos, etc. na África do Sul. Mas
recebemos um grande banho de água fria: o plano de saúde contratado na África
não cobriria nossas despesas com pré-natal e parto por ser uma condição
pré-existente à contratação do plano. E no Brasil, tínhamos o plano que cobria
tudo. Ficamos divididos por um tempo, mas achamos que seria melhor eu ficar,
continuar meu acompanhamento com o médico e a doula brasileiros, afinal não sabíamos
se teríamos a mesma sorte de encontrar profissionais humanizados por lá, já
que as únicas pessoas que conhecíamos até então que tiveram filho em solo africano fizeram
uma cesa eletivona! (Sim, na África do Sul também há uma grande parte das mulheres que
escolhe fazer cesárea, as intervenções também são de rotina, mesmo sem
necessidade, e o atendimento obstétrico e pré-natal é tão assustador quando no
Brasil).
Por convite da Jamile, minha doula,
passei a frequentar as reuniões do GAPN, onde conheci a Dra. Carla, a
enfermeira Shirley e a Doula Vânia, que depois vieram a participar do meu
parto! Além disso, entrei para a comunidade GPM no Orkut onde me informei
muito, me indignei bastante com a nossa realidade obstétrica, e tomei
conhecimento dentre outras coisas, do plano de parto. Com ajuda de todos
aprendi tudo o que podia acontecer comigo durante o parto, o que eu não queria
de jeito nenhum e o que fazer para previnir ou evitá-los. Não só os
procedimentos intervencionistas para comigo, como também os procedimentos
neonatais, também feitos de rotina e tão desnecessários quanto.
Decidi, então, incluir minha filha no
plano de parto. E marquei uma consulta com uma pediatra que muita gente me
indicou. E conversei com ela sobre tudo o que eu não queria, de jeito nenhum
que fosse feito na minha filha. Não queria vitamina K injetável, se podia dar
oral; não queria nitrato de prata nos olhos já que não tenho gonorréia e
clamídia, não queria esfregação e aspiração, a menos que fosse necessário.
Banho só depois, sem urgencia, etc. A pediatra me explicou porque tudo isso era
feito, mas fui firme! Disse a ela que não queria negligenciar a saúde da minha
filha e que se tudo se mostrasse necessário, aí sim faríamos alguma coisa. Ela
acabou concordando e respeito minha vontade.
As semanas foram passando, a barriga foi
crescendo, tudo continuava muito bem comigo e com a bebê: Luisa. O nome foi
escolhido em consenso, por causa da música Luiza do Tom Jobim que eu adoro!!
Mas colocamos com "S" para soar bem em espanhol também (língua
materna da família do meu marido). Fiz a besteira de dizer a DPP real para a
família toda. Ou seja, chegou o fatídico dia 20/11/09 e todo mundo me ligava
perguntando se já tinha nascido. NÃO! "Nem sinal?"NÃO! "Então
você vai marcar a cesárea?" NÃO!!!!!! "Como não? Vai acabar matando
sua menina aí dentro do seu útero assassino, bomba-relógio!"
Resolvi desligar o celular e não atender
mais o telefone de casa. E se mesmo assim alguém dissesse alguma coisa ou eu
fazia cara de paisagem, ou eu mandava logo praquele lugar. Estava sem paciência
para essa pressão toda. Mas no fundo estava tranquila. Eu sabia quando tinha
engravidado. Sabia o dia que tinha feito relação sem proteção, e sabia que
tinha ovulado 3 dias depois. Então, pelas minhas contas minha DPP estava 2
semanas adiantadas. Eu esperei tranquilamente!
41 semanas! O desespero da família
beirava o insuportável! A desinformação das pessoas beirava o rídiculo. Minha
sogra e minha cunhada pressionavam meu marido para a loucura de continuar
esperando. Ele estava comigo, 100%. Em nenhum momento passou pela cabeça dele
que algo estava errado. Assim como eu e a equipe que nos acompanhava, ele
confiava no processo!
Jamile me ligou e disse que não poderia
me acompanhar. A defesa do doutorado dela calhou de cair na semana que minha
filha provavelmente nasceria, e ela talvez não estivesse na cidade, e também
estaria bem comprometida com a apresentação, etc. Me passou o contato da Vânia.
Marcamos de nos conhecer e eu me apaixonei! A Vânia é muito parecida comigo, e
nos demos bem logo de cara. Na verdade tanto eu quanto ela tivemos a impressão
de já nos conhecer, mas nunca descobrimos de antes (e não era do GAPN, porque
quando eu a vi lá pela primeira vez já tinha tido esta impressão).
41 semanas e 6 dias! Nenhum sinal de TP.
Só as contrações de BH. Sem dor, só endurecimento pélvico. Eu caminhava pra
caramba e tomava um monte de chá de canela, pensando que ia ajudar a entrar em
TP. Namorava bastante também. Mas não causava nenhum efeito. Fomos ao Centro
Espírita que frequentávamos para uma reunião informal, uma festinha de fim de
ano. Comi bastante, conversei bastante! E na hora que estava indo embora,
cheguei a comentar sobre os chás e as caminhadas com uma moça. Ela olhou dentro
dos meus olhos e me disse: "Não precisa fazer nada! Ela virá, no tempo dela
ela virá!"
Aquilo me relaxou tanto, que cerca de 2
horas depois eu sentia as mesmas contrações em intervalos menores, até ficarem
de 5 em 5 minutos, bem breves, sem dor. Liguei para a Vânia,e ela me disse para ligar de novo quando já
estivessem mais intensas, doendo mesmo há uns 40 minutos. Fui para casa, tomei
um banho e me deitei para dormir com meu marido. Acordei com uma contração
doloridinha, olhei as horas: 3:00. Voltei a dormir. Acordei de novo com outra
contração doloridinha: 3:05. Uau! Acordei meu marido e disse a ele que tive 2
contrações doloridas em 5 minutos.
Ele me perguntou o que eu queria fazer.
Eu disse que queria levantar, trocar de roupa e ir pra sala. Fomos. Na sala
ficamos sentados no sofá, batendo papo e marcando as contrações. Estávamos
muito felizes! Tinha chegado o momento no dia exato em que completei as 42
semanas! Eu tinha lido vários relatos de parto e sabia que podia demorar
bastante tempo. Eu estava preparada para ficar naquela por horas, dias talvez.
Uns 45 minutos depois ligamos para a Vânia. Rafael, me marido, lhe explicou
como estavam as contrações e ela disse que já estava vindo. Um tempo depois,
meu pai acordou. Ele iria viajar para São Paulo bem cedo. Se assustou quando
nos viu na sala e perguntou se estava tudo bem!, E sim estava, era a Luisa
chegando! Ele ficou feliz e nos desejou boa sorte. Na hora em que estava saindo
de casa se esbarrou com a Vânia no elevador. Vânia chegou carregada, com bola
suiça, bolsa de água quente, banheira inflável emprestada da Jamile, etc.
Encheu a bola e eu fiquei brincando,
dando pulinhos, dando risada e me concentrando na hora das contrações. Vânia
ensinou uma massagem para o Rafael e foi esquentar água para a bolsa. Perguntou
se estávamos anotando o tempo de duração das contrações, mas nós esquecemos
disso. Sabiamos de quanto em quanto tempo elas vinham, mas não tínhamos idéia
de quanto tempo duravam. Ela disse que era porque estavam sendo rápidas. Rimos!
Vânia nos deixou a sós na sala e ficou na
cozinha conversando com minha mãe, que estava bem nervosa. Ela nunca tinha
passado por um parto, então a idéia toda, mesmo que ela mesmo tivesse me
aconselhado a buscar isso, era assustadora!
O Rafael tinha colocado ao meu lado uma
bandeja com petiscos e água de coco que compramos especialmente para a ocasião,
mas eu não estava com muita fome ou sede. Esse foi meu erro, devia ter me
alimentado melhor! Senti uma tontura, era minha pressão caindo, para variar.
Tenho um histórico de desmaios pro queda de pressão, especialmente relacionados
a dor. Então eu saí de cima da bola e deitei-me no sofá. Ali eu fiquei, dormia
nos intervalos das contrações, acordava com as dores, começava a gemer quando
elas atingiam um ápice e parava antes que elas fosse completamente embora.
Isso confundiu minha doula. Eu sempre fui
resiliente a dor, nunca fui de ficar gemendo ou reclamando muito, só quando
apertava mesmo! Então ela achava que minhas contrações estavam com intervalos
maiores e duração menores do que realmente estavam. MAs na hora do TP como que você
lembra de uma coisa dessa para explicar pra doula que não sabia disso? Pois é!
De repente me deu uma vontade de louca de
fazer força e empurrar. Eu chamei a Vânia e disse isso a ela. Ela me falou:
"Não faça! É muito cedo!" Eu me lembrei então do video do parto da
Noeli Vinaver, uma parteira mexicana, em que ela relata isso: que sentiu
vontade de fazer força, mas como parteira experiente sabia que era cedo, então
ela concentrou sua força em assoprar. Eu comecei a fazer o mesmo! E assoprei
como louca! Mas a vontade não passava,
e eu falei de novo pra Vânia.
Ela achou melhor ligar para a Jamile.
Tinha medo de me levar para a maternidade e ser cedo demais e eu acabar numa
cascata de intervenções que eu não queria. Jamile chegou rápido, mas para mim
parecia que uma eternidade tinha se passado.Ela fez uma ausculta e viu que tudo
estava bem com a Luisa. Perguntou se podia fazer um toque para termos certeza
da situação, eu falei que sim. Pasmem! Estava de 8 cm já! Eu não tinha noção de
quanto tempo tinha passado, mas mesmo para mim pareceu rápido.
Jamile então me disse: "Se você
quiser ir para a maternidade, agora é a hora!" Ela fez de propósito. Sabia
que lá no fundo eu tinha vontade para um Parto Domiciliar. E eu estava ali em
casa, tranquila, com uma doula e uma parteira experientíssimas. Com banheira,
com tudo bem, perto de nascer, etc. Mas eu não ouvi o "SE". Eu ouvi
quase uma ordem: "ir para a maternidade, agora é a hora!". Saí
correndo para trocar de roupa de novo (estava de top e short, e estava frio na
rua), pegar a mala da maternidade e ir. Até chegar no carro eu achei que ia
parir umas 2 vezes. Tamanha era a vontade de empurrar e a força das contrações.
A dor era suportável, nem achei tão ruim. mas a força do meu útero contraindo
tomava conta de todo o meu corpo.
Chegamos na maternidade em 5 minutos.
Morávamos perto. Para mim pareceu que durou horas todo o trajeto, e parecia que
o Rafael estava correndo a quase 100Km/h, mas ele foi a 20Km/h, com medo de
algum acidente, etc. Na recepção perguntaram se precisava de uma cadeira de
rodas. Eu, ainda no carro, respondi que sim, que já não conseguia mais ficar em
pé, muito menos andar. Na verdade eu estava lá no carro fazendo força e
empurrando! Sentia que se eu me levantasse fosse andando, minha filha nasceria
no corredor mesmo.
Chegou a cadeira, e esperaram um
intervalo entre as contrações para me tirarem do carro e me colocarem na
cadeira. O intervalo não veio. E eu fazendo força. Me tiraram assim mesmo, e me
levaram para o quarto. Tínhamos pagando antecipadamente para usar um
apartamento, assim não teríamos problema com número de acompanhantes, montagem
de banheira, etc. Mas, no dia, não tinha apartamento vago, então precisaram
mudar uma moça que já tinha tido filho de quarto. A colocaram em alojamento conjunto
que era o que o plano dela cobria (a maternidade tem a política de sempre
colocar as mulheres em quartos individuais, quando isso é possível,
independente do tipo to plano).
Cheguei no quarto, e a acompanhante da
mulher estava no banho, coitada! Bom eu cheguei e reconheci a Shirley do GAPN.
Era plantão dela, fiquei muito feliz, pois ela é um amor de pessoa, e uma
profissional incrível e super humanizada (como todos que me atenderam)! Ela me reconheceu também e disse: "É
você, meu bem!" Me levou para o quarto, me mostrou a banqueta e me deu a
camisolinha do convênio. Eu tirei a roupa e vesti a camisolinha, sem nem
perceber que a acompanhante da ex-ocupante do quarto estava saindo do banho.
Sentei na banqueta e pronto, fiquei completamente indiferente a tudo e a todos.
A Shirley me explicou que precisava fazer um toque pois era procedimento de
internação. Eu pedi a ela que esperasse passar a contração, e assim ela o fez.
Ela nunca me disse a quantas estava a dilatação, mas pela cara dela e pela
insistência dela para as auxiliares ligarem para os médicos porque já estava
nascendo, eu conclui que a dilatação era total e a cabecinha já estava para
coroar.
Chegou o Rogério e meu marido e ele
começaram a fazer piadas, sobre TUDO! Eu tinha pedido isso a eles! Queria rir,
para relaxar e ajudar no processo. Aquela coisa da Ina May Gaskins "relaxa
em cima, relaxa embaixo". bom, eu não lembro de nenhuma piada. Lembro que
eu sorria a cada uma delas. Mas eu estava na partolândia! Perdida dentro de mim
mesma, me encontrando comigo e com minha filha, e completamente concentrada.
Foi aí que senti uma pressão no períneo,
próximo ao anus. Pensei: Droga, vou fazer cocô, e pela pressão vai ser um
daqueles!". Avisei a todos, me falaram que tudo bem, podia fazer, que
limpariam. Mas eu fiquei um pouco encanada. Foi aí que minha ficha caiu que não
era um cocô, era minha filha. Senti o círculo de fogo, e nossa! Como ardeu! A
impressão que eu tinha era que meu clitoris ia arrebentar, e voar na testa do
Rogerio. Isso me fez rir. RElaxei de novo. Senti minha filha fazer a rotação
para encaixar melhor. Gente, o que foi aquilo? Que sensação maravilhosa! A
cabeça começou a sair e ui! Uma laceração. E ui! Outra! Uma de cada lado do
períneo. Pensei, bom saiu a cabeça, agora vai passar um tempo e vai sair o
resto do corpinho. Foi quando olhei para a frente e vi minha filha nas mãos do
Rogerio! Como assim? Já nasceu? Ela nasceu com a bolsa íntegra, quase sem
líquido e com o cordão enrolado no pescoço, no tronco, nas pernas, etc.
Mas nasceu ótima! Apgar 9/10. O único
problema foi que como nasceu muito rápido, ela não teve aquele tempo para o
canal comprimir o tronco e ajudar a expelir todo o líquido dos pulmões. Rogerio
me entregou ela, e eu fiquei ali ohando pra ela e pensando: Agora fudeu! Sou
mãe! Que que eu vou fazer? Mais risadas! Saiu o mecônio, todo em cima de mim!
Mais piadas! Rafael foi cortar o cordão e o Rogério o alertou: mas cuidado,
esse é meu dedo, hein? De repente, Vânia perguntou: alguém viu que horas
nasceu? Eu olhei no meu relógio de pulso (sim eu pari de relógio de pulso) e
disse são 7:15 agora! E ela calculou que tinha nascido há uns 3 minutos, tempo
que tinha o vídeo que ela estava fazendo. Então nasceu Luisa às 7:12 do dia
04/12/2009. Linda, gorda, enorme! 3,465Kg e 48,5cm. Era o maior bebê daquele
dia na maternidade (vocês podem imaginar que todos os outros 12 nasceram de
cesáreas eletivas).
Luisa ainda estava engasgando e não conseguiu
mamar de imediato. A pediatra então disse que precisava levá-la para aspirar.
Eu disse ok. Naquela hora eu nem conseguia raciocinar. Se me falassem que ia
fazer todas as intervenções que eu tanto lutei lutei para não ter, naquela hora
eu só responderia ok. Por isso, foi tão importante combinar com a pediatra
antes. E foi muito bacana porque ela respeito e cumpriu todo o combinado!
Fiquei esperando sair a placenta,
enquanto o Rafael levou a Luisa com a Shirley e a pediatra para aspirar, medir,
pesar, etc. Me lembro de ter visto a placenta e pensado: Eca, que treco
nojento! E nem dei bola pra ela. Rogerio me examinou e disse que as lacerações
era só de mucosa e pequenas e nem precisava dar ponto. Perguntaram se eu queria
me deitar ou tomar banho. Eu olhei praquele monte de sangue e mecônio em mim e
respondi: Banho, por favor! Gente como eu tava com nojo naquela hora. E sou tão
pouco nojenta, vai entender!
No banho, passei mal de novo, tontura e
desmaio por causa da pressão que despencou, mais uma vez. Tive uns sonhos
estranhos! Acordei e olhei para a cara das auxiliares e fiquei pensando: Meu
Deus! Onde eu estou, o que aconteceu? Voltei para o quarto e lá estavam o
Rafael e a Luisa. Pensei: Nossa foi verdade, eu pari, minha filha nasceu, eu
sou mãe! Me deitei para melhorar da queda de pressão, e coloquei a Luisa no
peito. Ela custou a pegar o peito, e quando finalmente pegou, foi tudo errado.
Demorei para acertar a pega dela, mas ela conseguia mamar e ganhar peso bem,
então não foi tão grave. O maior problema foram os machucado nos dois mamilos.
Hoje Luisa tem 1 ano e 8 meses e ainda
mama, e muito!
Considerações:
- É importante se informar bem antes e
durante a gravidez, você pode não ter a mesma sorte minha. As chances são de
que não tenha mesmo!
- Parir mudou minha vida e pra muito
melhor! Super recomendo!
- Faça plano de parto, e brigue para ele
ser cumprido! Mas brigue antes, porque na hora você talvez nem se importe com
nada.
- Depois descobri que meu TP ativo durou
4h. O mesmo tempo que minha mãe levou para dilatar 4 cm. Por isso não acredito
em falta de dilatação genética! Cada parto é um. Cada mulher é uma. Cada corpo
é um único!
Boa sorte com seu parto!