quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Amo ser mãe, mas odeio o isolamento, a solidão



Eu não escolhi ser mãe. Assim como se escolhe uma carreira, como se almeja um sonho na vida. Eu tinha um ideal de maternidade completamente fora da realidade, pois nunca me ocupei de conversar com quem vivia a experiência na pele e saber como era tudo.

Ou, na verdade, desprezava os relatos negativos que surgiam, imaginando serem apenas uma exceção, um ponto escuro no mundo cor de rosa que a maternidade seria. A cada lamento materno que porventura vinha a ouvir, eu oferecia meus melhores trejeitos de desdém.

Nunca tinha reparado nos detalhes. Nas mães recém paridas que eu visitara e em seus bebês. Os cabelos despenteados, geralmente mal presos de qualquer forma, as roupas manchadas e amassadas, a cara de cansaço, os bebês que ou mamavam ou choravam ou dormiam num carrinho ou berço ou colo. As visitas duravam coisa de pelo menos 15 ou 20 minutos, e isso não era tempo suficiente para me aprofundar em nenhum detalhe. E assim segui até o dia em que a menstruação atrasada indicava que a maternidade ocorreria para mim.

Tinha 25 anos, e praticamente no dia do meu aniversário eu peguei o meu primeiro positivo nas mãos. Eu não sabia o que sentir. Estava em um momento da vida em que os planos todos levavam a direção contrária de ter um filho. Alguém inclusive me lembrou disse com essas palavras "Isso não é hora de engravidar, né?". Não era! Mas e daí? Que opções eu tinha? Eu só tinha uma opção: encarar esse novo mundo.

A primeira coisa que fiz, viciada em redes sociais que já era, foi encontrar uma comunidade no falecido Orkut que falasse sobre gravidez, parto e maternidade. E lá eu encontrei uma comunidade enorme, de mães, grávidas e tentantes, que tinham respostas para quase tudo, tudo muito científico, embasado.

Lia muito, daquele e de outros grupos. Fiz minhas escolhas, tomei minhas decisões, baseado no que eu já queria, no que eu já pensava e nos conselhos e dicas daquelas mães.

Porém, mal podia imaginar eu o que a maternidade nos reserva. De pessoas complexas, passamos a um título: Mãe. De seres humanos sociais, passamos a ser reconhecidas por apenas um papel: Mãe.

A maternidade me caiu como uma luva, nela me encontrei. Me vi realizada em desempenhar este papel, em cumprir essa função, que eu nunca imaginei que pudesse ser tão desafiadora. Apesar de todo cansaço, das noites mal dormidas, das dores, das lágrimas, foi ao me tornar mãe que me tornei completa, enquanto mulher, enquanto pessoa. Não digo que seja assim para todas as mulheres, para todas as pessoas. Não tenho objetivo de regrar a humanidade pela minha experiência. Estou falando de mim e do meu sentimento em relação a esta experiência na minha vida.

Contudo, a maternidade me isolou do mundo. Pois o mundo não tem lugar para as mães, porque não sabe lidar com bebês e crianças. Para a sociedade, é inadmissível que uma pessoa adulta, deixe de ser produtiva, economicamente falando, para ser cuidadora. E com isso, reserva, principalmente às mães, que são as que gestam, parem, aleitam e precisam de seus corpos para se dedicar a isto e precisam de tempo para se recuperar fisica e emocionalmente disto, o espaço do isolamento, do abandono.

A mãe se vê, então, presa, sozinha. A sociedade condena a amamentação em público, diz para a mulher que opta em amamentar que se isole, se cubra, se esconda. A sociedade não tolera o choro dos bebês, o grito das crianças e limita sua participação a espaços definidos para crianças apenas. Ou, quando não e possível segregar, humilha seus pais, e principalmente suas mães, por estarem ali, por não "fazerem nada a respeito".

Todos sempre tem uma opinião sobre o que a mãe está fazendo de errado. Mas ninguém oferece incentivo quando está mãe está acertando. E há muito julgamento para cada escolha desta mulher, mas nenhum apoio para que ela seja bem sucedida.

Portanto, ao termos filhos, o mundo claramente nos coloca em um cantinho reservado para sermos mães. E, além de nós mesmas, não se lembra que antes de tudo somos também pessoas, e que importamos.


Metáfora: mulher procurando seu lugar no mundo após ter um filho