terça-feira, 8 de julho de 2014

Relato de Parto do Pedro



O parto do Pedro começou na gestação da Luisa. Aliás, começou antes, começou desde a minha infância ao ouvir o relato do meu próprio nascimento. Já relatei ambos uma vez, então não o farei de novo. Quem quiser pode ler aqui.
Desde que a Luisa nasceu, num parto natural hospitalar super rápido, eu fiquei me perguntando porque raios eu tinha saído de casa e ido ao hospital só para pari-la! Ainda mais porque em minha casa se encontrava uma parteira super experiente. Enfim, marinheira de primeira viagem, falsas certezas e alguns receios me cercavam a época. Fato é que após o nascimento dela eu conheci muita gente que pariu, muita gente que tentou parir e muita gente que queria muito e muito mesmo parir de novo só pra fazer tudo diferente.
Vivi o dilema de desejar mais a outro parto, (que superasse o primeiro, mesmo não tendo sofrido violência obstétrica) do que outro filho. E esse dilema é tão comum entre as mulheres! A vontade de viver toda a experiência de novo, e de mudar alguma coisa, e de se reencontrar consigo mesma, de curar feridas, etc.
Porém, eu, racional que sou, sabia que com o novo parto viria um bebê e a responsabilidade de criá-lo, educá-lo e deixá-lo pro mundo, que era o que mais me preocupava e apavorava.
Para mim, parir era a parte fácil e gostosa da história. Depois vinha o difícil. Então, esse bebê foi sendo adiado, e planejado, e adiado, até que ele se manifestou. Não lembro se ele já existia em meu ventre quando o sonho aconteceu, mas eu descobri que estava, ou estaria grávida em breve, por meio dele.
Foi um sonho lindo, reconfortante, gostoso de sonhar. Eu estava em uma casa no campo, como eu sempre desejei ter, e aparecia um garotinho lindo, pele branquinha, cabelos bem negros, e passeava pela casa de mãos dadas comigo. No final do sonho ele me deu um quadro de presente, era uma pintura de duas crianças de mãos dadas, ele e uma menina mais velha que ele, muito parecida com a Luisa e comigo mesma quando criança. Então, depois de me entregar o quadro ele se despedia de mim e dizia: “Estou voltando!”
Acordei emocionada e fiquei atenta, até que notei a menstruação atrasada, enrolei, fiquei com medo e acabei cedendo e fiz um teste de farmácia: positivo! Euforia e pânico tomaram conta de mim. Era o pior momento de nossas vidas para termos um filho. Mudanças no orçamento doméstico, uma provável mudança de casa, talvez de cidade a caminho. Muito medo se abateu sobre mim. Medo de dar tudo errado, do parto que eu passei tanto tempo desejando não acontecer, de só vir o filho, claro já muito amado. Mas o parto, ah o parto era MUITO IMPORTANTE!
Eu tinha medo de ser agredida durante o nascimento do meu filho, de ficar marcada pra vida por causa disso, de ter dificuldade de criar vínculo com ele por causa disso. Com isso, a gravidez foi pesada emocionalmente, triste, cansativa, arrebatadora.
Eu queria fugir de mim e do mundo, quis me separar, quis fugir, quis ficar dormindo a gravidez inteira, mas eu tinha uma filha para cuidar e foi por ela que eu não sofri ainda mais. Foi ela quem iluminou essa gravidez, ela e ele.
Eu tinha um desejo de não saber o sexo do bebê antes do parto, queria a surpresa, mas estava solitária nesse pensamento. Pai e restante da família queriam saber o quanto antes, então eu quis saber também, antes ser a primeira que a última, não é?
E então descobrimos que viria um menino. Na verdade, confirmamos, afinal o instinto já dizia que era isso mesmo. E o nome já estava escolhido: Pedro.
Eu sabia que uma gravidez saudável poderia chegar a 42 semanas. Foi assim da primeira vez, então quando me perguntavam para quando era o bebê eu dizia a proximidade da data de 42 semanas, a fim de evitar pressões desnecessárias e cruéis no final da gestação.
Como queríamos um parto domiciliar, contatamos uma parteira, a mesma que me acompanhou no parto da Luisa, e combinamos tudo com ela. Quis o destino, contudo, que ela não pudesse nos acompanhar, devido a dificuldades pessoais e profissionais dela, nada relacionadas a mim ou a gravidez.
Ainda não sabíamos quem acompanharia o parto e o primeiro susto grande aconteceu: uma cólica muito forte, uma contração fortíssima do útero e um sangramento abundante. Não era nada demais, no fim, mas o susto serviu pra deixar claro a mim mesma que: sim, eu desejava aquele bebê, eu queria aquele filho, eu amava Pedro desde já.
A gravidez seguiu tranqüila, ao menos no aspecto físico, encontramos nossa equipe para nos acompanhar no parto, uma enfermeira, uma doula, uma obstetra e uma neonatologista. Todas mulheres fortes, francas, de energia contagiante. A certeza de que Pedro chegaria ao mundo da maneira mais tranqüila e segura nos preenchia a cada semana que passava.
Até que chegou o dia 9 de abril, 40 semanas, e eu acordei com muitas cólicas, razoavelmente fortes. Avisei as amigas, avisei a equipe e aguardei. O dia foi passando e as novidades iam chegando: tampão mucoso com rajadas de sangue, diminuição do intervalo das contrações, aumento da intensidade.
E nesse meio tempo me lembrei da fotógrafa que tinha combinado um ensaio de gestante comigo e ainda não tínhamos realizado. Liguei pra ela e fizemos o ensaio, em pleno trabalho de parto latente.
Aproveitei o dia para limpar e arrumar a casa, tentar deixar o que desse pronto para a chegada do Pedro e despedir da gravidez, da Luisa como filha única, de mim como mãe só da Luisa. O dia foi longo.
À noite, quando consegui dormir, acordei sobressaltada com a ausência de contrações e pensei: alarme falso! Não era trabalho de parto, eram pródromos. Mesmo já tendo passado por um TP, eu havia me enganado. Fiquei ansiosa. Tentei descontrair e então notei que elas estavam lá, ainda ritmadas, mas um tanto leves e quase indolores. O torpor do sono as tornou imperceptíveis momentaneamente.
Luisa ainda não tinha dormido. Tratei de botá-la a dormir, o que só aconteceu por volta de meia-noite. Deitei com ela em nossa cama, ela adormeceu finalmente e eu senti a primeira contração verdadeiramente dolorida da minha vida. Estava deitada de barriga pra cima e a dor me paralisou momentaneamente. Imaginei as mulheres que são obrigadas a parir nessa posição e lamentei por elas.
Levantei-me, fui ao outro quarto onde o espetáculo ocorreria. Não tinha anda montado: banheira, forro plástico, câmara fotográfica, nada!
Mas eu consegui apenas fazer download de um contador de contrações, contar as contrações e tentar acordar o pai. Pensei na doula, desejei que ela estivesse ali, mas não conseguia procurar o telefone e ligar pra ela. Pensei na parteira, mas achei que fosse cedo pra chamá-la.
Sim,eu já tinha parido, mas tudo foi muito diferente, e mesmo eu contraindo de 5 em 5 minutos, com contrações durando cerca de 1 minuto, achei que ainda fosse levar mais tempo para tudo acontecer. A Luisa nasceu 4 horas depois da primeira dor, Pedro eu esperava pelo menos umas 3 horas de trabalho de parto.
Mas, foi tudo muito rápido. De 10 em 10 minutos, 7 em 7, 5 em 5. O pai não acordava, eu não conseguia chamar mais ninguém. Muita dor, alucinante. E mesmo conseguindo manter um pouco de pensamento racional, o instinto me dominou.
Quando o pai finalmente acordou, não dava mais tempo de nada. Ele chamou equipe, ele tentou me massagear, e me deu apoio. Mas foram 20 minutos que mais pareceram 20 segundos. Do sofá onde eu estava para o vaso sanitário, do vaso ao chuveiro e do chuveiro a baqueta de parto.
Companheiro correndo de um lado pro outro, telefona, abre porta, avisa porteiro, acode Lusa acordando, me aquece, me conforta, acode Luisa de novo, ate que:
- Tudo bem?
- Tá nascendo!
Sim tinha me tocado e sentido a bolsa amniótica saindo pelo canal. Aparei meu períneo. Foi instinto. Em pouco tempo a bolsa foi se preenchendo com a cabeça de Pedro, e em duas contrações ele estava em nossos braços, aparado pelos pais.
E foi assim, que sozinhos, Rafael e eu parimos nosso filho. E esse momento durará para sempre em nossas lembranças. Momento de emoção pura, e tranqüilidade surpreendente.
A parteira e a doula chegaram cerca de 5 minutos depois, atestaram a saúde e o bem-estar de todos.
Pedro já estava mamando. E pegou certo desde o primeiro instante e mamou intensamente por longas horas.
A placenta demorou um pouquinho a sair, mas estava íntegra, intacta e bela. Eu não quis guardar para nenhum ritual, porque quem em conhece sabe que sou uma pessoa prática e nada ritualística. Mas era uma bela duma placenta, e fiquei encantada por ela!
O parto do Pedro foi assim, intenso, determinado, porque assim é Pedro. Sua personalidade impregnou todo o momento e desde então temos tido o prazer e a alegria de conviver com tão generosa, carismática e cativante criatura.

Pedro, nos te amamos, e amamos teu nascimento! Foi a experiência mais significativa de nossas vidas! Muitíssimo obrigada!


sábado, 1 de fevereiro de 2014

A criação com apego

Eis que participando do grupo no Facebook "Criação com Apego" vejo um convinte do Thiago Queiroz, autor do blog "Paizinho, Vírgula" a escrever um relato sobre a criação com apego de crianças maiores, que já passaram a fase de bebês.

Se é que é fácil separar um bebê de uma criança no coração de uma mãe, não é?

Mas enfim, relato breve parido, o Thiago publicou lá no blog dele, e eu trago para cá.

Para ler o post completo do Thiago, clique aqui.


Sou Mariana, 29 anos, atuo hoje como consultora em amamentação e babá. Modero o GVA (Grupo Virtual de Amamentação) e a GPM (Gestação, Parto e Maternidade) no Facebook. Tenho um blog que anda parado, mas que pretendo retomar assim que minha vida de mãe apegada de dois deixar, o Maternando e Andando.
Minha filha mais velha, Luisa, tem hoje 3 anos e dez meses de idade e foi criada com apego desde a barriga. Começou com a minha busca por um parto respeitoso e não violento pra mim. Por volta dos 7 meses de gestação, já tendo tudo certo para o parto, foi que descobri todas as intervenções desnecessárias feitas de rotina em recém-nascidos, e me chocou. Passei então a buscar assistência humanizada também de um neonatologista.
A partir daquele momento, o bem-estar do bebê era mais importante que qualquer outra coisa que eu tivesse me preocupado antes em relação ao parto. Principalmente após o nascimento. Encontrei uma pediatra muito receptiva, com quem tive que brigar só um pouco para ter meu plano de parto atendido, e que nos respeitou imensamente em todos os momentos (inclusive atendendo virtualmente, já que nos mudamos para outro país).
Algumas questões sobre a criação da Luisa passaram batidas num primeiro momento. É difícil termos acesso a todas as informações voltadas a primeira infância de uma só vez, especialmente enquanto estamos ocupados com a criação em si. Mas a maioria das decisões tomadas foi baseada em alguma evidência científica, recomendação de órgãos de saúde e educação, pesquisas, etc.
A amamentação foi difícil, tivemos diversas dificuldades e problemas, porém, com ajuda de grupos de apoio e dos profissionais de saúde aos quais tivemos acesso, conseguimos superar cada um deles, sem que não houvesse introdução de formulas lácteas ou mamadeira. Infelizmente, não resisti ao uso da chupeta. Apesar de saber que fazia mal, que não era nada bom, fui voto vencido, e enfraquecida pelo puerpério aceitei facilmente a derrota.
Assim foi também com televisão, brinquedos eletrônicos, entre outras coisas. Mas assim que eu descobria os malefícios, ou que me sentia fortalecida novamente, assumia a responsabilidade pelos erros cometidos e tratava de consertá-los.
Luisa era um bebê que demandava muita atenção e energia dos pais, especialmente da mãe. Continua assim ainda hoje. Procuramos atender todas as suas necessidades, sem medo de estar errando, pois nos parece plenamente necessário na criação de um filho.
Quando bebê isso significava: amamentar em livre demanda, fazer cama compartilhada, alimentar com alimentos saudáveis e feitos em casa, na quantidade que ela quisesse, realizar brincadeiras e passeios ao ar livre, na companhia de amigos ou só da família, e ofertar muito colo.
Ainda dormimos juntos, ela ainda demanda abraços, apertos de mãos e carinhos para adormecer e permanecer dormindo.
Temos uma cama para ela em outro quarto, para quando ela quer e se sentir pronta para ali dormir, o que ocorre algumas vezes.
Tanto seu desfralde quanto seu desmame ocorreram de forma gradual, respeitosa e espontânea. Mesmo que tenham acontecido fatores que possam ter influenciado (tanto para acelerar, quanto para atrasar) um ou outro, nunca foi tomada uma iniciativa visando conduzir ambos.
Fiquei com ela em casa até seus dois anos e 3 meses, quando por uma série de fatores, decidimos colocá-la em uma escola. Escolhemos aquela que parecia oferecer o mais próximo possível daquilo que acreditamos ser a melhor forma de lidar e educar crianças.
Hoje, percebemos que foi cedo para ela, mas na época foi necessário. Contudo, atualmente ela adora a escola, seus colegas e professoras.
Luisa possui uma personalidade marcante, é determinada, forte, corajosa e inteligente. Consegue se comunicar muito bem, é carinhosa, amorosa e exigente. Sabe bem o que quer e o que não quer e consegue expressar isto muito claramente. É pacifica na maior parte do tempo, mas como humana possui seus momentos de fúria que já aprendeu a controlar. Nessas horas tem se isolado em um canto de sua escolha até que se acalme e volte a interagir com as pessoas.
Ela, hoje, já conhece junkie food (especialmente chocolate e refrigerante) e aprecia. Porém, ainda mantemos controlado seu consumo, e explicamos que é para a própria saúde dela. Também gosta de assistir televisão, mas já entende que há momentos adequados para isso.
Gosta muito de brincar, especialmente de inventar brinquedos e brincadeiras. Prefere a companhia de pessoas, animais e plantas que de objetos.
Acreditamos que a pessoa que ela é e que continuará sendo é fruto de sua linda alma e da criação que recebeu.
O filho mais novo é o Pedro, de 6 meses. Como Pedro já nasceu em uma família com pais experientes no ofício de maternar/paternar, está apenas desfrutando do aprendizado que foi criar Luisa.
Cama compartilhada, amamentação em livre demanda, colo, desde sempre e com menos receio ainda. Na verdade, agora é fácil saber que este tipo de criação resulta em seres humanos melhores.
Obrigada pela oportunidade!


Via: Paizinho, Vírgula! :: http://paizinhovirgula.com/criacao-com-apego-e-o-bebe-que-ja-nao-e-mais-tao-bebe-assim/

Nossa história de amamentação e desmame - Luisa e Mariana


Luisa nasceu de um parto natural e humanizado hospitalar. Foi um parto rápido e tranqüilo, no qual eu sinceramente não senti dor, ou senti pouco incomodo com ela.
Tinha em meus planos amamentá-la na primeira hora de vida, pois sabia da importância disso para o sucesso da amamentação, mas eu não fazia idéia do quão difícil era amamentar.
Não me preparei nenhum um pouco para isso, pois imaginei realmente sendo uma coisa muito fácil e natural. Porém, ao contrário do parto, não foi.
Ao nascer, ela foi direto ao meu colo, mas não pegou o peito. Ainda engasgada com algum liquido pulmonar foi levada para longe, a fim de ser aspirada, o que não ocorreu de fato, pois no trajeto do quarto onde nasceu até o centro obstétrico, ela se desengasgou sozinha.
Eu fiquei ali, parindo a placenta, tomando banho, desmaiando. Ao acordar do desmaio a idéia de ser mãe me pareceu tão surreal, que ao ver meu marido com nossa filha no colo, com aquele olhar babão e apaixonado, eu senti inveja.
Eu tinha imaginado que sentiria aquela paixão ao ver meu bebê, mas não senti. O peso da responsabilidade caiu muito maior. E eu me vi na obrigação de ser mãe, de cuidar, de embalar, de amamentar.
Durante duas semanas, mais ou menos, eu vivi no automático. Amamentei, banhei, troquei, carreguei no colo por puro impulso, instinto, mas sem nenhum envolvimento emocional de minha parte.
Foi então que eu ganhei um livro muito comentado e vendido na época que prometia ensinar todos os truques para maternar com sucesso. E eu caí no conto do livro.
Devorei o livro, pois eu precisava aprender muito rapidamente como ser mãe. As palavras que mais ecoavam na minha cabeça eram “Você já cuidou de algum bebê?” que eu ouvi antes de Luisa nascer, e que desdenhei na época, agora eram meu maior tormento.
Com os ensinamentos do livro eu abandonei a prática da livre demanda na amamentação. Até então eu toda vez que minha filha chorava a colocava no peito. Depois do livro eu passei a amamentá-la a cada três horas somente, e por no máximo 20 minutos em cada peito. Se ela chorasse antes disso, eu ficava desesperadamente embalando, chacoalhando  fazendo shhh shh, e pedindo socorro do marido, meus pais, quem estivesse por perto pra fazer isso também.
Aprendi com o livro que eu precisava de um tempo meu. Veja só, eu com um bebê de 20 dias querendo dormir, descansar, passear SEM o bebê!!!! E fiz algumas vezes. Confesso que ficava tão incomodada de fazer isso, me sentia abandonando minha filha, mas achava que era assim mesmo e que me acostumaria em algum momento.
Eu que tinha sido tão contra chupeta a minha vida toda, me vi aceitando dar chupeta pra Luisa. A primeira vez que tentei foi devido as enormes e extremamente doloridas feridas em meus dois mamilos, culpa da pega incorreta que eu não sabia corrigir. Na verdade, eu nem sabia que a pega estava incorreta. Passei a achar que amamentar doía mesmo e que era pra isso que existia chupeta, pra aliviar entre uma mamada e outra. Nessa primeira vez, Luisa não pegou. Mais tarde porém, com pouco mais de 1 mês de vida, ela aceitou e eu fiquei aliviada. Achei horrível aquilo na boca da minha filha, mas ela parou de chorar nos intervalos das mamadas, que eu ainda seguia religiosamente.
Com cerca de dois meses, Luisa não tinha ganhado muito peso, e naquele momento, muito preocupada e pressionada pelo marido, passei a pesquisar outras fontes para entender o que eu podia fazer, que não envolvesse uma mamadeira de leite artificial.
Descobri dois grupos de apoio às mães que amamentam. O Grupo Virtual de Amamentação e a La Leche League International. O primeiro, como o nome já diz, virtual, funcionava via comunidade do Orkut. Devorei seus tópicos. O segundo também oferecia ajuda virtual mas tinha o plus de ter encontros presenciais mensais.
Esses dois grupos, e seus membros e moderadoras, salvaram a minha vida, a vida da Luisa e nossa história de amamentação.
Aprendi com eles que: tem que fazer livre demanda!!! A produção de leite funciona com estímulo da sucção do bebê, ou seja, quanto mais o bebê suga o seio, mais leite é produzido, mais leite o bebê mama, mais peso ele ganha, mas saudável ele fica.
Os dois grupos apoiavam a cama compartilhada, que eu já vinha fazendo por instinto, mas depois do livro resolvi abolir e passei diversas noites levantando da minha cama indo até o quarto ao lado para amamentar a pequena, colocá-la de novo no berço, voltar para a cama e já ter que recomeçar o ciclo novamente, pois ela não conseguia dormir sozinha.
Assim, retornamos a livre demanda e cama compartilhada. A livre demanda era falha, eu ainda oferecia chupeta, especialmente quando dormia ao seio e eu queria deixá-la a dormir só, durante o dia.
Seguimos nesse ritmo, por vezes mais intensos (com os picos de crescimento e saltos de desenvolvimento, que eu recém descobrira), outras vezes mais tranqüilos, até os seis meses.
Ao completar seis meses, como é indicado pelos órgãos de saúde e associações de pediatria, demos início a uma nova fase. A introdução de alimentos complementares começou, lenta e gradativamente.
Primeiro com uma refeição por dia, na hora do almoço. Um alimento por vez, oferecido por  3 a 4 dias. Depois com 7 meses introduzi o café da manhã. Com 8 meses a janta.
Com 9 meses, Luisa começou a se interessar muito mais pela comida, com 11 meses voltou a mamar como recém nascida. Nesse meio tempo, me convenci que a chupeta era uma muleta minha e que precisava sair de cena. Parei de oferecer, dava se ela pedisse.
Com 12 meses ela jogou as duas chupetas que tinha no lixo, não pediu mais, eu não comprei mais e fomos deschupetadas. Com isso, a demanda por peito aumentou muito, ela ainda tinha uma forte necessidade de sucção a ser saciada, e agora eu era o único instrumento disponível.
Intercalamos fases que Luisa mamava pouco e comia muito, mamava muito e comia pouco, mamava e comia muito, mamava e comia pouco.
As noites começaram a me deixar cansada, e por volta dos 18 meses cogitei o desmame noturno. Não foi sucedido, abandonei e esperei que viesse naturalmente. Aconteceu por volta dos dois anos.
Foi então que a grande mudança aconteceu. Mudança de vida, de casa, de país, de continente! E houve, claro, uma regressão no comportamento da Luisa, que voltou a mamar a noite, voltou a mamar intensamente. Muitas mudanças de uma vez, moramos em 4 lugares diferentes em 4 meses.
Com nosso retorno ao Brasil, nossa renda diminui e eu precisava retornar ao mercado de trabalho. Somado a isso, eu estava cansada. Foram 2 anos e 3 meses de dedicação exclusiva à Luisa, sem ajuda, além da paterna.
Com isso, nos decidimos por colocá-la por meio período em uma escola, a fim de que tivesse crianças com quem brincar, e que me permitisse um tempo para trabalhar e cuidar da casa, já que não poderia mais contar com o auxilio de uma faxineira semanal e dos workshops que tínhamos para mães e bebês, lá na África do Sul, onde vivíamos.
Esse foi o primeiro passo em direção ao fim da livre demanda. Durante a adaptação na escola, que levou 3 meses, eu ainda ia amamentá-la quando podia. Mas, fui deixando de ir, porque naquele momento achei que ela conseguia ficar aquelas 4 horas sem mamar, sem que isso a prejudicasse em algo.

No restante do tempo, ainda mamava quando queria. Com o passar do tempo isso passou a significar que ela mamava ao acordar, após as refeições, e para dormir. Essas mamadas duravam bastante tempo, e foram reduzindo. Primeiro em duração, depois em quantidade.
Chegamos com 2 anos e meio e ela mamava três vezes ao dia. Nesse momento, engravidei. Nunca quis engravidar antes do desmame, mas aconteceu. Eu que nunca tinha me imaginado amamentando grávida, ou fazendo amamentação tandem, fiquei obcecada pelo assunto, passei a conversar sobre isso com as amigas que experimentaram essa situação e me imaginava vivendo-a com tranqüilidade.
A Luisa porém, passou a se desinteressar do mamar, antes mesmo da gravidez. Ela passou a mais morder do que sugar e aquilo começou a incomodar. Eu queria que ela mamasse, por isso toda mordida eu pedia que ela não fizesse aquilo, que me machucava.
E ela parava e sugava. Depois passou a simplesmente largar o peito. Depois passou a não pedir mais e recusar quando oferecido, e depois voltava a mamar como se nada tivesse acontecido.
Até que um dia, às vésperas de seu terceiro aniversário, percebi que não me lembrava de quando ela tinha mamado pela última vez. E comecei a prestar atenção na próxima mamada. Não aconteceu. Assim, sem que eu percebesse ela desmamou. Vários fatores podem ter influenciado e/ou acelerado esse processo. Mas eles surgiram em nossas vidas oriundos de outras necessidades, nada relacionadas a um desmame.
Eu, que sempre sonhei com um desmame natural, imaginei Luisa se despedindo e agradecendo o mamá, fui pega por um desmame diferente, conduzido por circunstâncias da vida.

Me questionei muito! Muito mesmo se em algum momento, de alguma forma, consciente ou não eu conduzi esse desmame. Se essas circunstâncias não teriam sido criadas por mim a fim de levar ao fim nossa amamentação. Questionei a mim mesma e a outras pessoas próximas que acompanharam essa nossa vivência.

O que conclui, principalmente após escrever esse relato e reviver alguns momentos na memória, foi que não. Mesmo depois de alguns meses de desmamada eu ainda me pegava oferecendo o seio e ainda estranhava quado ela recusava. Ainda hoje sinto saudades de tê-la ao seio.

Eu amo amamentar, e amamentar a Luisa foi uma das experiência mais maravilhosas que já vivi. Todavia, não consigo afirmar que esse desmame foi 100% natural, que foi no tempo dela, etc.
Reconheço que mesmo sem querer, diversas atitudes e decisões minhas, pensando em diversos outros fatores, influenciaram e aceleraram o processo natural.

Porém, aprendi que realizar um ideal da maneira como sonhado nem sempre é possível, que para atingir alguns objetivos e realizar desejos talvez se tenha que prejudicar de alguma maneira outras instâncias da vida.

Hoje, o relacionamento da Luisa com o mamar é normal, ela adora ver o irmão mamando, acaricia e beija o mamá vez ou outra, mas em seu próprio ritmo ela está se reconhecendo uma criança que cresceu, e que irá vivenciar outras experiências que não estarão mais, necessariamente, ligadas a mim.

E isso, tem sido lindo de assistir!